Bérgamo, uma das cidades da Arte mais belas da Itália – localizada aos pés dos alpes, a 60 km de Milão – é uma verdadeira joia, uma das mais fascinantes de toda a região da Lombardia. O cenário natural que a cerca é espetacular, e sua característica principal é a divisão de sua estrutura urbana: a “Cidade Baixa” (Città Bassa), que é moderna e dinâmica, e a famosa “Cidade Alta” (Città Alta), que abriga a história medieval de Bérgamo.
Preparamos uma lista com as principais atrações – concentradas na Bérgamo Alta -, de interesse histórico e cultural, para que você conheça um pouco mais dessa fantástica cidade.
A Bérgamo Alta
A Città Alta, no dialeto local “Bèrghem de sura”, é a parte mais antiga e também a mais interessante do ponto de vista turístico. Seu núcleo tem origens medievais, com ruas estreitas e sinuosas e vielas de paralelepípedos repletas de vida, lojas e turistas, praças bonitas e espaçosas e monumentos antigos, que encantam viajantes de todo o mundo.
O funicular de Bérgamo
Há 120 anos, dois pitorescos vagões de cor laranja cruzam a cidade conectando o centro contemporâneo com a Città Alta. A viagem dura pouquíssimos minutos e sobe 85 metros de altura. O ponto de chegada é na Piazza Mercato delle Scarpe, uma praça que leva o nome do mercado de calçados que era realizado em 1430. A experiência é certamente interessante e aconselhada!
A entrada na cidade Alta de Bérgamo pode ser feita tanto pelo funicular, quanto por uma de suas quatro portas, que veremos mais adiante.
As muralhas venezianas – Patrimônio da Unesco
As altas muralhas venezianas da cidade de Bérgamo são, certamente, uma das coisas que mais surpreendem o visitante e caracterizam a bela cidade. Estendem-se por cerca de 6km e, em alguns pontos, podem chegar aos 50 metros de altura.
Em julho de 2017, Bérgamo confirma seu enorme valor artístico e histórico em todo o mundo, ao ser incluída na lista de patrimônios da humanidade pela UNESCO e se tornar o 53º patrimônio italiano. A inscrição foi reconhecida como: “Obras de defesa venezianas entre os séculos XVI e XVII”. Além das muralhas da cidade Alta de Bérgamo, foram incluídas outras cinco fortificações: Peschiera e Palmanova del Garda na Itália; Sibenik e Zara na Croácia e Catarro em Montenegro.
As muralhas defensivas foram construídas no século XVI, durante o período em que Bérgamo era território da República de Veneza. As imponentes fortificações visavam proteger a “Serenissima” das investidas de Milão, dos Franceses e dos Espanhóis, visto que Bérgamo gozava de uma posição estratégica favorável.
As obras causaram um grande impacto, uma vez que foi necessário demolir cerca de 250 edifícios, incluindo casas e até locais de culto. A construção das muralhas começou em 1561 e foi concluída em 1588, e envolveu muitos trabalhadores, arquitetos e soldados, que tinham a função de proteger as obras.
Devido ao fato de Bérgamo nunca ter sido atacada por seus inimigos, suas muralhas chegaram praticamente intactas até os dias atuais.
É possível passear por todo o perímetro das muralhas a pé, num percurso que permite admirar os 14 baluartes, as 32 guaritas, os dois barris de pólvora, os pórticos, as 100 canhoneiras e as quatro imponentes portas: San Giacomo e San Lorenzo (também conhecida como “Porta Garibaldi”, pois por ali passou o “Herói dos dois Mundos” em 1859 quando anexou Bérgamo ao Reino da Sardenna), Sant ‘Alessandro e Sant’Agostino. O passeio é certamente muito sugestivo!
Piazza Vecchia de Bérgamo
“Piazza Vecchia de Bergamo é a praça mais bonita da Europa.”
Le Corbusier, arquiteto, urbanista e pintor franco-suíço.
Considerada uma das mais belas praças medievais da Itália, a Piazza Vecchia é o símbolo da Bérgamo Alta, sendo a sua praça principal, o centro da cidade medieval.
A praça, cuja história é muito antiga, foi construída sobre as ruínas do antigo fórum romano, e atualmente é dominada por majestosos e imponentes edifícios, que datam de diferentes períodos históricos.
Dentre eles destacamos:
O Palazzo della Ragione
É um edifício histórico da cidade, que data do final de 1100 e separa a Piazza Vecchia da Piazza del Duomo. Representa a mais antiga sede municipal lombarda existente.
A Fonte Contarini
Colocada no centro da Piazza Vecchia, a fonte foi doada à cidade em 1780 pelo podestà (o prefeito da época) veneziano Alvise Contarini.
O Palazzo Nuovo ou Biblioteca Angelo Mai
Localizado no lado oposto da praça, o Palazzo Nuovo foi a sede do Município até 1873 e atualmente é a sede da Biblioteca Angelo Mai, uma das mais importantes da Itália. O edifício abriga um patrimônio de valor inestimável em livros, incunábulos do século XVI, gravuras, manuscritos e outros achados.
O Caffè del Tasso e a estátua de Torquato Tasso
O Caffè del Tasso é um dos mais antigos da Itália. Documentos históricos revelam que o local existe antes mesmo da descoberta da América! Em 1476 era conhecido como Locanda delle due Spade, tendo assumido o nome atual quando, em 1681, nas proximidades foi erguida a estátua do célebre poeta italiano Torquato Tasso, autor do poema Jerusalém Libertada (1581).
Frequentado ao longo dos anos por artistas, escritores e outros personagens famosos, o Caffè del Tasso é um verdadeiro pedaço da história de Bérgamo. Aproveite a visita para descobrir as centenas de fotos e autógrafos das celebridades que passaram por ali ao longo dos séculos.
A Torre Cívica, conhecida como “il Campanone”
Também na Piazza Vecchia, entre o Palazzo della Ragione e o Palazzo del Podestà, destaca-se il Campanone.
Com seus 52 metros de altura, durante a dominação veneziana, a torre sineira era utilizada para sancionar o toque de recolher e o fechamento dos portões da cidade. Ainda hoje, de acordo com a tradição que dura 360 anos, todas as noites, às 22h, ouve-se 100 badaladas.
É possível subir il Campanone por meio de um elevador de vidro, ou, para os mais dispostos, a pé, encarando os 230 degraus! A subida é recomendadíssima, pois do alto goza-se de uma vista panorâmica deslumbrante da antiga cidade.
O nome Campanone (grande sino) vem do fato de que a torre cívica tem 3 sinos e um deles, realizado em 1656, é o maior de toda a Lombardia.
Piazza del Duomo de Bérgamo
É o antigo coração sagrado da cidade Alta. Antes da construção da atual Piazza Vecchia, Piazza del Duomo era a praça da cidade, dedicada a São Vicente. Ingressá-la é como entrar em um tesouro, pois é cercada por esplêndidos edifícios – ricos em arte e história -, a poucos metros de distância um do outro, que deixam qualquer um encantado (clique aqui e faça um giro panorâmico virtual da praça). Destacamos:
O Duomo de Bérgamo (Catedral de Sant’Alessandro) e a Capela de Papa Giovanni XXIII
O Duomo de Bérgamo, localizado no coração religioso da cidade, entre a Basílica de Santa Maria Maggiore e o Palazzo della Ragione, foi construído no local onde presumivelmente ocorreu, em 303 d.C., o martírio de Sant’Alessandro (conhecido como Santo Alexandre, no Brasil), o padroeiro da cidade.
O edifício, que leva o nome do próprio Sant’Alessandro, foi projetado pelo florentino Filarete – o célebre arquiteto do Renascimento – em 1450, e sua construção só foi concluída no século XVII.
Dada à sua importância, a catedral sofreu inúmeras ampliações e transformações. Ao contemplá-la de fora, faz-se uma viagem pela história da arte desde o Renascimento. A fachada de mármore branco que podemos admirar hoje, foi inaugurada em 1889, enquanto a cúpula, projetada no final do século XVII, adornada com a brilhante estátua de Sant’Alessandro, só foi concluída em meados de 1800.
Inicialmente, a igreja – construída por volta dos séculos VI-VII pelos Godos – foi dedicada a San Vicenzo de Saragozza, a quem essa população era devota; mas mudou de nome em 1561, quando a então catedral dedicada ao padroeiro Sant’Alessandro foi destruída pelos venezianos em prol da construção da muralha defensiva.
O interior do Duomo é um espaço muito luminoso, amplo e encantador, dominado pelo branco das paredes repletas de elegantes decorações douradas.
A catedral abriga muitas obras preciosas e pinturas de variados e importantes artistas, dentre as quais destacamos:
– o Martírio de São João bispo, de Giambattista Tiepolo: mais que um martírio, parece uma obra de teatro, com o anjo descendo de cabeça.
– o coro de madeira, do século XVII, de Johann Karl Sanz, que está atrás do altar.
– a espetacular cátedra episcopal, esculpida por Andrea Fantoni.
Um dos objetos preciosos que mais chamam a atenção de quem visita a catedral é, sem dúvida, a tiara do Beato Papa João XXIII, recebida em 1963. A obra, criada em 1958 por Attilio Nani, é feita em ouro cintilante, cravejada de pérolas, rubis, diamantes e esmeraldas.
Desde o ano 2000, além da tiara, o cálice e outros objetos pertencentes ao Beato estão expostos ao público na Capela de San Vincenzo e San Giovanni XXIII, no interior do Duomo.
O Batistério da Catedral de Bérgamo
Assim como os outros edifícios presentes na Piazza del Duomo, o Batistério da Catedral de Bergamo também é rico em história e arte.
O edifício destinado ao rito batismal sofreu inúmeras mudanças ao longo dos séculos, inclusive em relação ao seu posicionamento, que foi alterado por três vezes.
O Batistério foi construído em 1340 por Giovanni da Campione e colocado no interior da Basílica de Santa Maria Maggiore, onde permaneceu até 1661.
Quando o bispo da cidade, movido pela preocupação de perder o seu poder dentro da Igreja Romana, decidiu que os batismos deveriam ser celebrados apenas na catedral e não mais na Basílica de Santa Maria Maggiore, – o batistério foi desmontado e algumas de suas peças foram usadas para decorar uma capela do Duomo. Posteriormente, foi colocado no claustro da Canônica e depois, em 1898, foi reconstruído em estilo neoclássico para ser posicionado na Piazza Duomo, onde podemos visitá-lo atualmente.
Com uma estrutura octogonal – o número 8 se repete oito vezes no Batistério, formando uma combinação mágica – o monumento é circundado por um portão do século XIX muito similar ao portão da Capela Colleoni. Do lado externo vê-se uma série de oito colunas intercaladas lado a lado com oito estátuas, do século XIV, de figuras femininas alongadas. As estátuas representam as três virtudes teologais: fé, esperança e caridade; e as quatro virtudes cardeais: prudência, justiça, fortaleza e temperança, às quais se acrescentou uma oitava virtude, a paciência. O telhado é encimado por uma pequena lanterna na qual foi colocada a estátua de um arcanjo.
Na parte interna encontra-se a pia batismal, decorada em estilo gótico por Giovanni da Campione. Nas paredes internas há oito painéis em baixos-relevos representando os episódios mais marcantes da vida de Jesus (Anunciação, Natividade, Adoração dos Reis Magos, Apresentação ao Templo, Batismo, Captura e Condenação, Crucificação, Deposição e Ressurreição), também obra de Campione.
A Capela Colleoni
Construída entre 1472 e 1477, a capela foi encomendada para ser o mausoléu renascentista de Bartolomeo Colleoni (nascido entre 1395 e 1400 e morto em novembro de 1475), célebre capitão mercenário.
Bartolomeo Colleoni começou sua carreira militar como mercenário e a culminou como capitão das milícias venezianas. Sua vida está intimamente ligada a Bérgamo, cidade onde nasceu (pela precisão, no vilarejo de Solza, próximo ao centro urbano) e para a qual, no auge de sua carreira, se dedicou muito.
Localizada ao lado da Basílica de Santa Maria Maggiore, na Piazza Duomo, é, sem dúvida, o edifício mais majestoso de Bérgamo, obra-prima do arquiteto e escultor Giovanni Antonio Amadeo e ícone da arquitetura renascentista da região Lombardia.
A preciosa fachada, graças à habilidade do arquiteto, chama a atenção por sua grande beleza. É encimada por uma cúpula octogonal, e as decorações que a compõem não são meros ornamentos, mas têm um significado preciso. As esculturas e baixos-relevos representam, além de sujeitos religiosos, homens ilustres da antiguidade, figuras que simbolizam as virtudes do homem, cenas mitológicas ou representações de imperadores romanos. Todos são símbolos da força, da coragem e inteligência do líder.
O seu interior abriga incríveis obras de arte: a estátua equestre em madeira dourada de Bartolomeo Colleoni – sobre a qual se projeta a luz que vem da rosácea -, os dois sarcófagos inteiramente trabalhados em mármore, o delicado túmulo de sua filha Medeia, os elegantes assentos entalhados em madeira.
Uma curiosidade: no portão do mausoléu está o brasão da família Colleoni, que chama a atenção pela presença de 3 figuras em relevo, que representam três testículos. Colleoni se orgulhava de seu brasão, pois os testículos eram o símbolo de poder e força incomuns. A tradição diz que passar a mão nos testículos traz boa sorte. Então não perca a oportunidade!
A Basílica de Santa Maria Maggiore
Adjacente à Capela Colleoni, a basílica é muito menos visível que a capela, que pela sua majestade capta toda a atenção, mas guarda no seu interior preciosos tesouros artísticos, que nos contam quase mil anos de história, além de ser a igreja mais amada pelos bergamascos.
A Basílica representa um grande gesto de devoção, pois segundo a tradição popular foi construída como sinal de agradecimento à Virgem Maria, a quem o povo de Bérgamo rezou e invocou para que a peste que assolava o Norte da Itália poupasse a cidade. Em 15 de agosto de 1137, o bispo de Bérgamo, Gregorio, benzeu a primeira pedra da Basílica de Santa Maria Maggiore, erguida no local onde havia uma pequena igreja do século VIII dedicada à Virgem.
Uma característica bastante interessante da Basílica é a ausência de uma entrada, de uma fachada central, pois a parede era ligada ao antigo palácio episcopal, assim, todas as 4 portas de ingresso são laterais.
Esplêndida desde o início, a Basílica foi enriquecida ao longo dos séculos. Seu interior é um baú de tesouros preciosos, destacamos:
- afrescos do século XIV;
- tapeçarias florentinas;
- um confessionário de madeira do século XVIII, de Andrea Fantoni;
- a abóbada da nave central decorada com estuque e ouro puro;
- o coro de madeira, feito com a utilização da técnica intársia, de Lorenzo Lotto.
No interior também está o monumento fúnebre do famoso compositor, símbolo e porta-voz de Bergamo no mundo, Gaetano Donizetti.
As delícias culinárias de Bérgamo
Bergamo também é rica em termos de gastronomia e a vastidão de opções baseia-se em produtos genuínos, como carnes e queijos. Dos pratos mais tradicionais, destacamos:
– Casoncelli, um ravioli feito com massa fresca, recheado com carne moída, amaretto, uvas-passas e ovos, temperado com parmesão, manteiga, bacon e sálvia.
– Polenta Taragna, um prato feito de farinha de milho e farinha de trigo sarraceno, que pode ser servida acompanhada de vários pratos de carne, como ensopados ou javali.
– Polenta e osei, pode ser servido tanto como segundo prato, na versão salgada, quanto como sobremesa. A sobremesa é uma polenta preparada com pão de ló, recheada com creme de chocolate, avelã e rum, com cobertura de queijo marcarpone amarelo e açúcar cristalino. Nessa versão, as aves (osei) são de chocolate!
Uma curiosidade: o sorvete stracciatella (flocos) nasceu em Bérgamo em 1961, quando Enrico Panettoni, em sua sorveteria, decidiu combinar alguns flocos de chocolate amargo com fiordilatte.
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