Veneza é mundialmente conhecida pelo seu romantismo, representado pelos canais e gôndolas. Neste sentido, a cidade praticamente dispensa apresentações. É, sem sombra de dúvidas, um dos pontos turísticos mais importantes e mais visitados de toda a Itália, oferecendo sempre ao visitante marcas que permanecem na memória pelo resto da vida!
Localizada ao Nordeste da Itália, na margem costeira entre as desembocaduras dos rios Pó e Piave, Veneza é formada por um conjunto de 118 pequenas ilhas, 170 canais e 430 pontes, sendo cercada de água por todos os lados, como é bem conhecido. Esta característica faz com que a cidade seja submetida a inundações constantes, vivendo sob a ameaça de completa submersão. Há quem diga, inclusive, que um dia sua totalidade será engolida pelas águas, deixando de existir para sempre.
Interpretando artisticamente este fato de importância incomensurável para os habitantes locais, Lorenzo Quinn, por ocasião da 57ª Bienal de Veneza, instalou uma das obras mais icônicas da paisagem atual da cidade, denominada por ele de Support. Trata-se de uma reflexão urgente não apenas sobre o destino de Veneza, como sobre as ações humanas e seus efeitos sobre o mundo em que vivemos:
Pensando nisso, destacamos a seguir os principais pontos de visitação desta cidade incrível, juntamente com um pouco, é claro, como sempre destacamos, de sua história.
Praça São Marcos
A Praça São Marcos é o ponto central da cidade, sendo, claro, seu principal ponto turístico. A partir da Praça, você poderá conhecer praticamente todas as atrações turísticas mais importantes de Veneza, como sua Catedral, ou o Palácio Ducale e a Torre do Relógio. É por aqui também que poderá efetuar suas compras, por exemplo, ou saborear a comida local em um de suas dezenas de cafés, como o famoso Café Florian, por exemplo.
Entretanto, entre as diversas atrações que conhecerá ao visitar a Praça, não deixe de subir ao Campanile di San Marco, uma das torres mais famosas por aqui, que permite uma visão magnífica da cidade do alto. É daquelas oportunidades que sempre apreciamos como turistas de fotografar um ponto de vista diferente, de cima, alterando nossas limitações de perspectiva quando ao rés do chão.
Basílica de São Marcos
A Basílica de São Marcos está localizada na Praça de mesmo nome, que acabamos de destacar. É um dos maiores exemplos do mundo no que se refere à arquitetura em estilo bizantino, sendo consagrada no século XI, enquanto o restante da Europa passava pela transição entre a Alta e Baixa Idade Média, no contexto das sucessivas derrotas católicas no movimento das Cruzadas.
Seu retábulo, a conhecidíssima Pala d’Oro, um imenso painel em esmalte, no espaço dedicado ao altar, é um exemplo importantíssimo do tipo de confecção em estilo bizantino, sendo até os dias atuais um dos maiores exemplos das influências decorativas do Império Romano do Oriente em todo o mundo.
Ao longo do século XIV, sob influências da arquitetura gótica, já muito consagrada à época, a basílica é continuamente reformada em sua decoração, seja interna, ou externa, mesmo que mantendo basicamente inalterada sua estrutura. O principal exemplo deste jogo de influências está em seus mosaicos internos, compostos de ouro, bronze e diversas pedras diferentes, é uma das maiores estruturas decorativas deste tipo no mundo todo.
Palazzo Ducale
O Palácio também está localizado na Praça São Marcos, contíguo à Basílica, sendo passagem obrigatória para quem visita o Centro Histórico de Veneza e sua parte conhecida como “zona monumental”.
No passado, o Palazzo Ducale serviu como sede do governo, ao abrigar o Doge, ou seja, o chefe de estado da República de Veneza, quando esta ainda não era unificada com o Estado Italiano que conhecemos hoje.
É possível notar em seu exterior as influências arquitetônicas bizantinas e, de modo geral, orientais. Todavia, o Palácio é extremamente eclético, trazendo aos visitantes exemplos estruturais que vão do gótico ao renascentista.
Mesmo de fora, sua fachada impressiona pela grandiosidade e extremo cuidado estético e, por si só, vale a caminhada fotográfica. Porém, não passe por aqui sem explorar a extensa galeria de artes em seu interior, com obras dos mais renomados artistas de Veneza, de vários períodos históricos diferentes.
Ponte dei Sospiri
A Ponte dos Suspiros, em direção oposta ao romantismo sugerido pelo nome, liga o Palácio Ducal, que acabamos de conhecer, às Prigioni Nuove, as Prisões Novas. Trata-se de uma curta distância sobre o Rio de Palazzo por onde os presidiários venezianos passavam, tendo um último contato com o ar livre e o passado de liberdade.
O nome acabou se tornando um símbolo do último suspiro que os presos dariam, em memória de seus tempos de liberdade, num desalento que antecedia ao aprisionamento definitivo. Em vários de seus poemas românticos, o aclamado escritor Lord Byron teria apelidado a ponte, em referência ao fato de que uma vez julgado e condenado à prisão no Palácio dos Doges, um criminoso nunca mais sairia dali com vida.
Fora do circuito mais conhecido de Veneza, naquilo que apreciamos denominar de “Verdadeira Veneza”, quando os turistas estão mais distantes, é possível conhecer o território à semelhança das impressões do povo local, em suas ruas mais secretas, em suas vielas mais charmosas. É a nossa parte preferida da cidade e, dentro desta perspectiva íntima, gostaríamos também de indicar alguns pontos essenciais de visitação (dentre tantos outros) que não podem faltar em sua estadia por aqui.
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Ponte de Rialto
Um dos cenários mais famosos da Cidade, a Ponte foi, durante muito tempo, a única passagem entre os dois lados do Grande Canal, o canal mais importante que passa por Veneza.
Construída inicialmente no século XII, foi sendo modificada muitas vezes ao longo de sua história, mesmo em sua época medieval. Principalmente por estar conectada diretamente ao importante mercado de Rialto, seu centro comercial mais relevante e que, inclusive, acabou por nomear a Ponte, o que subsiste até os dias atuais.
A Ponte Rialto chegou a desmoronar por mais de duas vezes, quando ainda era uma ponte pênsil de madeira, sendo reformada em sua estrutura atual de pedra apenas no século XVI, pelo arquiteto veneziano Antonio da Ponte, mantendo o desenho original das duas rampas inclinadas que se encontram num pórtico central.
Campo Santa Maria Formosa
Localizado no bairro de Castello, é uma praça bastante frequentada pelos locais, mas quase desconhecida por aqueles que passam temporariamente pelo turismo veneziano.
Além de possuir em seu entorno diversos pontos que podem ser visitados, como a Igreja de Santa Maria Formosa, ou Palácio Donà, a Casa Vernier ou o Palácio Malipiero Trevisan, o Campo é importante por ser um centro secundário de Veneza fora de sua área monumental, tão badalada pelo turismo de massa e, portanto, mais intimista e próprio para aqueles estrangeiros que preferem conhecer com mais detalhes os locais por onde passam. Ver os moradores fazendo suas compras do dia a dia, ou as crianças brincando na praça, é sempre um elemento importante da memória, para se levar na bagagem de volta pra casa e não esquecer nunca mais.
Basilica Santi Giovanni e Paolo
A segunda maior Basílica de Veneza, atrás somente da sua catedral, claro, é conhecida pelo dialeto local como Basilica San Zanipolo e, ao contrário do que o nome sugere, não é dedicada a dois dos mais famosos apóstolos de Cristo, São João e São Paulo. O nome advém de uma homenagem feita pela cidade, ao fim da Idade Média, a dois mártires locais, santificados, sim, porém praticamente desconhecidos fora dos limites de Veneza.
A igreja merece um olhar mais atento, pois é um dos exemplos mais bem-acabados do estilo gótico italiano na cidade. Seu interior contém diversas obras de arte sacra, assinadas por inúmeros artistas importantíssimos para a história da arte não apenas de Veneza, como de toda a Itália. Para além da grande estátua da Virgem da Paz, tida como milagrosa e tendo para si uma capela própria na face sul da Basílica, o templo abriga obras e construções destacadas de artistas como Giambellino, Bartolomeo Bon, Giovanni Martini da Udine, entre diversos outros.
Santa Maria Maddalena in Cannaregio
A visita à Igreja de Santa Maria Madalena é importantíssima para conhecer melhor a amplitude da dimensão arquitetônica de Veneza. O ecletismo de suas origens fica claríssimo por aqui. Distante da estética gótica ou renascentista ou mesmo bizantina das demais construções que já mencionamos, a Maddalena, em sua reconstrução Neoclássica assinada pelo renomado teórico e historiador Tommaso Temanza, é um exemplo de como as cidades italianas são recheadas de uma diversidade cultural a cada esquina.
Pequena, porém riquíssima, a igreja oferece uma visão quase inédita de uma das poucas obras concluídas pelo mencionado arquiteto. É arredondada em seu exterior, com um interior hexagonal, ladeado por quatro torres, à moda da construção do Panteão, em Roma.
Ghetto Nuovo de Veneza
Cercada de história, Veneza possui relatos incríveis sobre várias de suas ocupações humanas. Uma delas data do ano de 1508 e é consequência de uma guerra europeia em território veneziano. O conflito, liderado pelo Papa Júlio II, acabou por incentivar a migração de muitos judeus para Veneza, o que preocupava as lideranças católicas da região. Com o fim do conflito armado, em 1516, o Senado italiano promulgou uma lei em que os judeus localizados em Veneza deveriam ocupar uma região denominada de Ghetto Nuovo, fazendo surgir, assim, o primeiro gueto judeu da Era Moderna.
O Ghetto existe até os dias atuais, formado em uma ilha acessível apenas por duas pontes que, à época, eram protegidas por portões de ferro, vigiados por tempo integral e obrigando os seus residentes a um estado de sítio que permita sua circulação apenas durante o dia. E, mesmo esta circulação era controlada, pois os judeus eram obrigados e utilizar um sinal de identificação.
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O crescimento demográfico do bairro judeu obrigou seus habitantes a construírem edifícios verticais, que até hoje estão entre os mais elevados de Veneza, ascendendo a até 8 andares. Várias sinagogas foram construídas por ali desde o século XVI, chegando ao número de 7 no século XVIII, formando um dos conjuntos arquitetônicos mais importantes em Veneza até hoje.
Afastado da multidão de turistas que ocupam Veneza todos os anos, o Ghetto é um espaço culturalmente riquíssimo, não apenas por sua origem histórica, como também por carregar a intensidade dos anos posteriores à tragédia da Segunda Guerra Mundial. O bairro é sempre tomado por um silêncio contrito, um monumento em memória daqueles que foram perseguidos em tantos momentos cruciais da história da humanidade.
Foto de capa: Panorâmica de Veneza. Frank11 / Bigstock