Veneza: conheça a história de suas pontes mais importantes

Em Veneza existem mais de 400 pontes, cada uma delas oferece uma visão diferente da cidade. Quatro delas conectam as duas margens do Canal Grande, a principal via navegável da ilha: a Ponte de Rialto, a Ponte da Academia, a Ponte degli Scalzi e a recentíssima Ponte de Calatrava. Todas as outras ligam as demais partes da cidade, passando por cima dos cerca de 150 canais que cruzam Veneza.

Conheça um pouco da história, lendas e curiosidades das pontes mais famosas de Veneza.

Ponte de Calatrava, Veneza.
Ponte de Calatrava, a quarta ponte sobre o Canal Grande em Veneza. Foto: Filippo Leonardi para a Prefeitura de Veneza / Commons Wikimedia

A Ponte Rialto: a primeira ponte sobre o Canal Grande

Em 1181, Nicolò Barattieri foi contratado para construir a primeira conexão entre as duas margens do Canal Grande. A ponte foi construída com velhos barcos e foi denominada “Ponte della Moneta”, provavelmente devido à proximidade da Casa da Moeda da Sereníssima.

Com o sucessivo desenvolvimento da zona de Rialto, para a qual o mercado tinha sido transferido, tornou-se imprescindível dar maior estabilidade à construção, em virtude do grande tráfego que se desenvolvia no bairro. Foi assim que, em 1250, os barcos que haviam servido de ligação entre as duas margens do canal durante cerca de um século, foram substituídos por uma estrutura de madeira mais sólida. Após essas obras, a “Ponte della Moneta” se tornou a “Ponte di Rialto”. A estrutura de madeira, no entanto, tinha vários inconvenientes e exigia uma manutenção meticulosa, por isso decidiu-se substituí-la por uma estrutura em pedra.

Ponte Rialto, Veneza.
Ponte Rialto, Veneza. Foto: sborisov / 123RF

A construção hoje visível, de autoria de Antônio da Ponte, foi concluída em 1591. A nova Ponte de Rialto não difere muito da estrutura de madeira que a precedeu, constituída por duas rampas inclinadas e uma secção central, todas cobertas por um elegante pórtico.

A Ponte da Academia

A crescente popularidade de Veneza e o aumento constante de pessoas que animavam a cidade, deram origem à necessidade de aumentar as conexões entre as duas margens do Canal Grande. Em 1854, portanto, foi inaugurada uma nova ponte, chamada Ponte da Academia (devido ao fato de estar próxima às Gallerie dell’Accademia, o antigo colégio sucessivamente convertido em pinacoteca).

A ponte foi construída inteiramente de ferro, mas a proximidade com a água e a umidade que aflige Veneza rapidamente mostraram a infeliz escolha do material. O engenheiro Eugenio Miozzi construiu então uma anônima ponte em madeira, aberta ao público em 1933.

Ponte da Academia, Veneza.
Ponte da Academia, Veneza. Foto: f9photos / Bigstock

A estrutura hoje visível é praticamente a original, à qual foram acrescentadas várias peças metálicas para garantir maior estabilidade. Certamente não é uma das pontes mais bonitas de Veneza, mas o panorama que dela pode ser apreciado é realmente muito sugestivo: admira-se o Canal Grande por vários quilômetros e nas suas margens os edifícios coloridos sucedem-se para emoldurar, com o céu servindo de pano de fundo, a cúpula da bela Igreja de Santa Maria da Saúde.

Vista do Grande Canal e da Basílica de Santa Maria della Salute da Ponte dell'Accademia em Veneza.
Vista do Grande Canal e da Basílica de Santa Maria della Salute da Ponte da Academia em Veneza. Foto: Life on White / Bigstock

Ponte degli Scalzi

A Ponte degli Scalzi é a primeira que se encontra ao chegar à cidade a partir da estação ferroviária. Poucos anos após a construção da Ponte da Academia, em 1858 foi decidido erguer a terceira ligação entre as duas margens do Canal Grande, em frente à estação ferroviária construída pelos Habsburgos pouco antes.

Ponte degli Scalzi, Veneza.
Ponte degli Scalzi, Veneza. Foto: photo.ua / Bigstock

A assim chamada Ponte da Estação assumiu o nome de Ponte degli Scalzi (devido à sua proximidade com a igreja de Santa Maria di Nazareth, conhecida também como “degli Scalzi”) ao sofrer uma importante restauração em 1934, quando foi substituída por uma nova estrutura inteiramente construída em pedra da Ístria, material muito utilizado em Veneza.

Outras pontes, outras histórias

Muitas outras pontes permitem andar por Veneza observando os canais e os esplêndidos edifícios de diferentes ângulos, mas também contam a história da cidade e as transformações por que passou ao longo dos séculos.

Ponte da Liberdade

Projetada pelo engenheiro Miozzi em 1931, a Ponte da Liberdade liga a ilha de Veneza ao continente. Inaugurada em 1933, permitiu, pela primeira vez na história, chegar a Veneza de carro. Seu nome atual foi dado em homenagem à libertação da cidade da ocupação nazista.

Ponte de Liberdade, Veneza.
Ponte de Liberdade, Veneza. Foto: Oktober64 / Bigstock

Ponte dei Pungi (Ponte dos socos)

Outras pontes nos falam dos costumes particulares da sociedade veneziana. É o caso da Ponte dei Pungi (localizada no bairro de Dorsoduro, a dois passos da Igreja de San Barnaba), em cima da qual os habitantes das facções de San Pietro e San Niccolò dei Mendicoli costumavam brigar trocando socos.

A Batalha na Ponte dos punhos, de Joseph Heinz.
Obra “A Batalha na Ponte dos punhos”, do pintor alemão Joseph Heintz o jovem (1600 – 1678). Foto: Commons Wikimedia

Vencia a equipe que, ao terminar a briga, contava mais homens na ponte, enquanto a facção que tinha mais pessoas no rio saia perdedora.

Ponte dei Pugni, Veneza.
Ponte dei Pugni, Veneza. Foto: Didier Descouens – Obra própria, CC BY-SA 4.0 / Commons Wikimedia

Ponte delle Tette

Já a “Ponte delle Tette” (Ponte das Tetas), localizada na região de Carampane, que na época da República Sereníssima hospedava um prostibulo, é assim chamada porque as prostitutas, olhando de seus apartamentos, mostravam seus seios aos potenciais clientes que estavam na ponte.

Ponte delle Tette, Veneza.
Ponte delle Tette, Veneza. Foto: Abxbay – Own work, CC BY-SA 3.0 / Commons Wikimedia

Ponte dos Suspiros

Uma ponte extremamente evocativa é a Ponte dos Suspiros. Ela conectava o Tribunal sediado no Palácio Ducal às Prisões Novas. Diz a tradição que os réus, uma vez condenados, atravessavam a ponte para serem conduzidos às prisões e dela suspiraram, dirigindo seu último olhar como cidadãos livres para a lagoa. Hoje casais de todo o mundo se beijam e se fotografam em poses românticas, convencidos de que os suspiros que tornaram a ponte famosa foram de amor!

Ponte dos Suspiros, Veneza.
Ponte dos Suspiros, Veneza. Foto: Donyanedomam / Bigstock

Ponte della Paglia

A Ponte della Paglia liga o pier da Praça São Marcos ao porto de “Riva degli Schiavoni” e corre paralela à Ponte dos suspiros. Foi construída em 1.100 e a sua parte mais antiga é a que atravessa o rio que separa o Palácio Ducal das Prisões.

Seu nome se deve ao fato de que naquele local antigamente acontecia o carregamento e descarregamento de barcos que levavam palha e feno. A palha era usada especialmente para os colchões, para cobrir os telhados das casas mais pobres, misturada com lama (esse, inclusive, é um dos motivos dos inúmeros incêndios que aconteciam na cidade), além de outros usos domésticos. O feno era utilizado para alimentar cavalos e burros.

Ponte della Paglia, Veneza.
Ponte della Paglia com a Ponte dos Suspiros ao fundo, Veneza. Foto: ©skiptonbear / 123RF.COM

Aos pés desta ponte estavam duas guaritas (pequenas casas de madeira), uma localizada perto do Palácio Ducal e a outra nas proximidades das Prisões, de onde os soldados da República controlavam a entrada e a saída dos cidadãos em trânsito na ponte. Além dessa tarefa, eles tinham que vigiar o comércio e cobrar as taxas devidas ao Estado pela descarga deste material tão importante e necessário para a vida da Sereníssima (assim era chamada a República de Veneza). Em certos dias, diante da guarita localizada próxima às Prisões, os cadáveres dos afogados estavam expostos para o devido reconhecimento.

Em 1854 foi ampliada e tornou-se como é agora: um ponto importante e estratégico de Veneza, que faz parte de sua história diária, com milhares de cidadãos e turistas que por ela passam todos os dias.

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Foto de capa: Ponte Rialto, Veneza. Foto: sborisov / 123RF

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