Você já imaginou caminhar por ruas que existem há milênios?
Matera, localizada na região da Basilicata, no sul da Itália, é considerada uma das cidades mais antigas do mundo ainda habitadas. Com uma história que remonta ao Período Paleolítico, Matera é um verdadeiro mergulho na pré-história, preservando até hoje um patrimônio cultural único e impressionante. Neste artigo, descubra por que Matera é muito mais do que um destino turístico — é uma verdadeira viagem no tempo.

Belezas Naturais e Geográficas de Matera
A cidade está situada em um planalto calcário, esculpido por milênios de erosão, formando um impressionante cânion com até 80 metros de profundidade, cortado pela torrente Gravina. Essa paisagem rupestre, de beleza quase surreal, contribui para o charme atemporal da cidade e oferece vistas inesquecíveis para os visitantes.

Leia também: TUDO SOBRE LECCE, A FLORENÇA DO SUL
Matera: A Segunda Belém e Cenário de Filmes Icônicos
Caminhar por Matera é como entrar em um presépio vivo. Por esse motivo, a cidade ficou conhecida como a “Segunda Belém”, tendo servido de cenário para diversos filmes religiosos e históricos. Entre os mais emblemáticos estão A Paixão de Cristo (2004), dirigido por Mel Gibson, e O Evangelho Segundo São Mateus (1964), de Pier Paolo Pasolini. Mais recentemente, Matera também foi pano de fundo para o filme 007 – Sem Tempo para Morrer (2021), estrelado por Daniel Craig, e para a série da HBO The Young Pope (2016), dirigida por Paolo Sorrentino. Essa presença constante no cinema internacional reforça a imagem sagrada, dramática e atemporal da cidade — uma verdadeira joia cinematográfica esculpida na pedra.

Sassi di Matera: Patrimônio Mundial da UNESCO
Leia também: POMPEIA, UMA CIDADE SOB AS CINZAS
O que são os Sassi de Matera
Os Sassi de Matera são muito mais do que simples bairros antigos — são um testemunho vívido da engenhosidade humana e da capacidade de adaptação ao ambiente natural.
Escavados diretamente nas encostas de rocha calcária, esses conjuntos de casas-cavernas interligadas por vielas sinuosas, escadarias íngremes e terraços sobrepostos formam um dos exemplos mais extraordinários de arquitetura rupestre do mundo.
Habitados continuamente desde o Período Paleolítico, os Sassi foram o lar de comunidades inteiras até meados do século XX, quando o governo italiano decidiu realocar seus moradores devido às precárias condições sanitárias da época.
No entanto, longe de serem esquecidos, os Sassi ressurgiram como símbolo de resistência cultural, sendo restaurados e integrados à vida contemporânea sem perder sua identidade ancestral.
Hoje, eles abrigam museus, residências, ateliês, restaurantes e hotéis, mantendo viva uma herança arquitetônica e social única no planeta.

Os dois principais bairros são:
Sasso Barisano: com influências posteriores, incluindo fachadas de alvenaria.
Sasso Caveoso: com estruturas mais antigas, ligadas ao passado pré-histórico;

Reconhecimento Internacional pela UNESCO
Em 1993, os Sassi de Matera foram oficialmente reconhecidos pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade, tornando-se o primeiro sítio cultural da Itália Meridional a receber essa prestigiosa distinção.
Este reconhecimento não apenas enaltece a importância histórica e arquitetônica dos Sassi, mas também introduz o conceito de “Paisagem Cultural” como critério de avaliação — um marco significativo na forma de preservar o patrimônio mundial.
A UNESCO reconheceu a harmonia única entre a natureza e a construção humana, destacando a incrível capacidade de adaptação dos habitantes de Matera à sua paisagem rochosa ao longo de milênios.
Os Sassi não são apenas um conjunto de edifícios, mas uma expressão viva de uma cultura que, através dos tempos, soube integrar-se e respeitar seu ecossistema natural.
Trata-se de um sistema urbano singular que perdura até os dias atuais, mantendo viva a memória de um modo de vida profundamente conectado à terra.
Arquitetura e Sustentabilidade dos Sassi de Matera
A arquitetura dos Sassi de Matera é um exemplo notável de sustentabilidade milenar e um testemunho da engenhosidade humana em se adaptar ao ambiente natural.
As casas escavadas na rocha oferecem soluções surpreendentemente eficientes para o conforto térmico. A temperatura no interior das cavernas permanece estável durante todo o ano, protegendo os moradores do calor intenso do verão e do frio rigoroso do inverno.


A geografia acidentada da região também foi aproveitada com sabedoria. Os antigos habitantes desenvolveram um sistema eficaz de coleta de águas pluviais, utilizando os desníveis do terreno para canalizar e armazenar a água do torrente Gravina e das chuvas sazonais, garantindo abastecimento potável mesmo em períodos de seca.
O calcário local, abundante nas formações rochosas da área, foi amplamente utilizado na construção. Esse material não só forneceu a base estrutural para as habitações, como também atuou como um isolante térmico natural, essencial para a conservação dos ambientes escavados.
Ao longo dos séculos, esse modelo urbano revelou uma profunda integração com o ecossistema. A cidade foi construída respeitando os recursos naturais e utilizando-os de maneira inteligente e sustentável.
Por tudo isso, os Sassi de Matera representam um exemplo raro e valioso de como a arquitetura pode estar em plena harmonia com a natureza, mantendo-se funcional, resiliente e relevante mesmo após milênios.
Ressurgimento dos Sassi e Turismo em Matera
Durante os anos 1950, as condições de vida nos Sassi de Matera eram tão precárias que o governo italiano decidiu realocar a população para bairros modernos, abandonando a cidade histórica. Por décadas, os Sassi permaneceram em um estado de negligência e abandono, sendo estigmatizados como uma relíquia do passado, associada à pobreza e decadência.

No entanto, na segunda metade do século XX, os olhares começaram a se voltar para Matera, à medida que se intensificava a conscientização sobre a preservação do patrimônio histórico e cultural. Gradualmente, começou a surgir o entendimento de que a cidade era uma joia arquitetônica e cultural que deveria ser valorizada.
A virada para a revitalização começou na década de 1980, quando grupos de arquitetos, historiadores e ativistas locais começaram a defender a restauração dos Sassi. Eles passaram a promover o potencial da cidade, não apenas como um destino turístico, mas como um ponto de encontro entre o passado e o futuro.
O reconhecimento da UNESCO não apenas colocou os Sassi de Matera no mapa global, mas também impulsionou um processo de revitalização que transformou a cidade. O status de Patrimônio da Humanidade atraiu uma atenção renovada, aumentando o fluxo de turistas e, ao mesmo tempo, despertando o interesse de investidores e profissionais da área de restauração e urbanismo. A partir daí, Matera passou a ser vista como um exemplo de como a preservação de um patrimônio histórico pode coexistir com o desenvolvimento urbano sustentável, criando novas oportunidades para a cidade sem perder sua essência.
Com esse novo olhar, Matera foi gradualmente transformada em um modelo de revitalização urbana sustentável, onde a história e a modernidade se encontram em harmonia. A cidade passou a atrair artistas, cineastas e estudiosos, que descobriram um local único para expressão criativa e inovação cultural.
Em 2019, Matera foi nomeada Capital Europeia da Cultura, consolidando sua transformação e sua nova imagem global. Hoje, os Sassi são um verdadeiro símbolo de renascimento, mostrando que a preservação do patrimônio pode ser a chave para o desenvolvimento de uma cidade moderna e vibrante.
Por Que Matera Deve Estar no Seu Roteiro de Viagem à Itália?
Visitar Matera é experimentar um dos destinos mais autênticos e menos explorados da Itália. Seu valor histórico, beleza natural e atmosfera cinematográfica fazem dela um ponto imperdível para amantes de história, arquitetura e cultura.
Clique AQUI e confira nossos roteiros que incluem Matera.
Foto de capa: AXP Photography de Pexels, Canva