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Entro num acordo contigo*
Falando em tempo, nada melhor do que experimentar um pouco do que foi a história de uma das poucas fortificações medievais integralmente conservadas atualmente: a Rocca di Angera, uma fortaleza arraigada num esporão de rocha calcária. Angera, outra cidade da mesma província do Mosteiro (Varese), é um antigo burgo que se apresenta no lago circundado de colinas, bosques, cursos de água e um majestoso pano de fundo formado pelos Alpes. Idílico, para dizer o mínimo.
Um pouco da história da Rocca di Angera
A sua história se mistura à época dos romanos e dos lombardos (ou longobardos), povo germânico que invadiu a Península Itálica, que a utilizavam como unidade defensiva pelo seu posicionamento estratégico. Infelizmente, não existem registros evidentes desta época.
O complexo arquitetônico foi se desenvolvendo em torno à Torre Principal (Torre Principale ou Castellana) – erguida entre o final do século XII e início do XII, de onde é possível ter uma vista fantástica dos montes e do lago –, e conta com outras cinco partes erguidas em épocas diferentes, “sofrendo” diversas modificações de proprietários diferentes.
A edificação pertenceu, no início, ao Refeitório da Arquidiocese, em seguida, à casa/dinastia Visconti em 1384. Por fim, após o término do domínio da família Visconti, em 1449 foi comprada por Vitaliano Borromeo, cuja família permanece proprietária até os dias de hoje. Naquela época, os Borromeo eram proprietários da Rocca di Arona (posteriormente destruída), também situada no lago, garantindo, assim, o controle da navegação no Lago Maggiore.
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A Torre di Giovanni Visconti se opõe à Torre Principale, e foi acrescentada no século XIV, por volta de 1350. Entre essas duas torres, encontra-se a Ala Viscontea, do século XII, onde é possível visitar a Sala di Giustizia decorada com um ciclo de afrescos realizados no século XII por um pintor anônimo, Maestro di Angera, e que dão um toque requintado no ambiente.
Há ainda a Ala dei Borromei e a Ala Scaligera. Esta última, um palecete do lado setentrional do castelo, é o mais novo espaço de exposição da Rocca e submetido a um grande trabalho de restauro de 2015 a 2017, que incluiu a recuperação de afrescos e a reconstrução da laje que divide o térreo e o primeiro andar. O espaço foi inaugurado em 2019 com o projeto expositivo Continuum, sob curadoria de Antonio Grulli. O título da mostra traduz a relação secular da família Borromeo com a arte, e a sua intenção de levá-la sempre adiante.
Além da Sala di Giustizia, existem mais onze salas históricas para se visitar, todas ricas de testemunhos históricos e artísticos: del Buon Romano, della Mitologia, delle Cerimonie, entre outras.
A Rocca dispõe ainda de um museu fundado em 1988 pela princesa Bona Borromeo Arese, o Museu da Boneca e do Brinquedo (Museo della Bambola e del Giocattolo), uma das mais importantes coleções da Europa. São mais de mil bonecas e brinquedos provenientes de culturas extra europeias do século XVIII até hoje e que, aos olhos de um turista atento, se transforma numa oportunidade de um rico estudo documental sobre as tradições do tempo a que pertenceram, a maneira de confeccioná-las, seu caráter raro, enfim, uma ponte à época que representam. Explica Marco Tosa, o curador do museu:
“A abertura do museu foi um importante evento cultural. (…) É oportuno lembrar que existem profundas conexões entre as bonecas antigas e modernas e os comportamentos sociais, educativos, não apenas uma ligação indissolúvel com o traje e a moda de ontem e de hoje.”
Para fechar a visita com chave de ouro, o jardim medieval (Giardino Medievale) foi pensado para proporcionar ao visitante momentos de apreciação, contemplação e sensações, mas também para mostrar o que foi o jardim na Idade Média do ponto de vista histórico e botânico. Em 2009, a partir de estudos aprofundados e meticulosos de documentação da época medieval, foi feita a reconstrução de quatro jardins em volta de uma capela pré-existente: o Bosque, o Jardim das Ervas Pequenas, o Jardim dos Príncipes e o Horto, ligados por percursos feitos principalmente de madeira e de pedra. O projeto de reconstrução está se expandindo gradualmente, dada a complexidade dos códigos antigos, com previsão de acréscimos de novos espaços para recriar a ideia do “paraíso perdido”, ainda intocado pela ação humana.
A história e as construções medievais exercem um fascínio sobre nós. Talvez por serem acompanhadas de um toque de mistério, de imponência, de força. Parece realmente inacreditável que uma construção como a Rocca di Angera esteja tão bem conservada.
O que usaremos pra isso
Fica guardado em sigilo
Tempo tempo tempo tempo
Apenas contigo e migo
Tempo tempo tempo tempo*
Foto de capa: Marcovarro / 123RF